Willer Barbosa candidato a Reitor da UFV

PLURIVERSITÁRIA TRANSIÇÃO/ UFV

PLANO DE TRABALHO

Vivemos em nosso país uma grave ameaça de retrocesso colonial. Uma ditadura estatal institucional toma forma e precisa ser enfrentada com coragem! Muito embora o quadro eleitoral nacional em breve se redefina, precisamos nos preparar para um período de trabalho árduo.

A comunidade ufeviana precisa assumir uma posição crítica diante disso anunciando novas perspectivas a partir de seu local, a Universidade Federal de Viçosa (UFV). Bem como, denunciar procedimentos golpistas diante de uma concepção democrática, que aqui e acolá se anunciem. Para isso, é necessário que se delineie um projeto pluriversitário que possa orientar ações no contexto institucional e interinstitucional em que nos vemos imersos. A única forma viável é a de unir forças em um campo democrático, crítico, criativo e participativo que possa reordenar as jornadas futuras do bem-viver de maior responsabilidade com a sociedade igualitária, livre e digna de se viver.

Diante da nova escolha para a direção de nossa UFV, talvez tenhamos uma oportunidade de gerar um processo diferente do fisiologismo que grassa em nossa instituição já há praticamente 90 anos. Mesmo porque, fazemos parte de uma instituição de excelência com vigorosos processos de produção de conhecimentos, mas que nem sempre conseguem enraizamento e implementação em nossos próprios campi.

Esta candidatura à reitoria da UFV foi decidida durante a preparação da 9ª Troca de Saberes em 2017 no intuito de configurar uma diversidade de campos, que seguem em crescimento dentro da UFV, mas que pouca atenção recebe das esferas hegemônicas, apesar de larga experiência e de grande reconhecimento nacional e internacional, consolidado através de inúmeros projetos e parcerias. Por outro lado, seu atual signatário, professor do Departamento de Educação desde 1993, oferta a Pluriversitária Transição à comunidade ufeviana como um brinde a partir de sua trajetória acadêmica de empoderamento e realizações, ainda mais nestes tempos de ampla renovação, sem o devido senso de acolhimento, de quadros de servidores públicos (docentes e técnicos) e de uma quase- vitória (sic) do neo-liberalismo nas universidades. Apesar de expressar uma atitude de orgulho pessoal, não manifesta uma busca de poder, no sentido estrito do termo.

Poderia ainda apor a esta candidatura uma homenagem póstuma a meu pai e minha mãe, Cid Bernardes Barbosa e Clélia Araujo Barbosa. Ela e ele ensinaram-me a ser um sujeito aberto, determinado e consequente; com eles desenvolvi, ainda em criança, o desejo de tornar-me um diplomata, que sigo cultivando nas artes de ser educador, de lidar com o contraditório, de gostar de boas conversações e da boa literatura e artes mundiais. Fui criança no Alto Rio Doce, várias vezes bebi na concha da mão as águas límpidas das nascentes doces daquele rio Xopotó-Piranga-Doce. Muitas e muitas vezes tomei o trem Vitória-Minas pra lá e pra cá, entre Belo Horizonte, Governador Valadares e Vitória até o território Krenak... até saber-me mesmo filho deste Rio Doce! Agora, homem velho, sinto que preciso investir tudo o que aprendi na recuperação das riquezas naturais e dos povos e comunidades tradicionais das bacias do Rio Doce.

Willer Araujo Barbosa, licenciado em Filosofia (Universidade Federal de Minas Gerais, 1984), doutor em Educação (Universidade Federal de Santa Catarina, 2005, e Universidade do Porto, Portugal, 2003), com pós-doutorado em História Oral (Universidade Federal Fluminense, 2012), sempre frequentou a escola pública, formou-se Técnico em Mecânica (Escola Técnica Federal de Minas Gerais, 1974) e, trabalhando no chão da fábrica cursou universidade. Desde 1978 exerce o magistério. Minha pesquisa e militância social sempre se fez junto ao povo mais oprimido: i. no Projeto Metropolitano/UFMG visitamos, em equipe interdisciplinar, ações de saúde popular nas periferias da Região Metropolitana de Belo Horizonte; ii. junto ao Grupo de Estudos da Questão Indígena (GREQUI) e ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI) atuei em territórios indígenas em todo o Leste e Nordeste brasileiros além de cumprir Estágio Supervisionado de Vivências durante 1 ano junto a essas populações; iii. em elaboração de estudos de Impacto Ambiental junto a barragens de perenização de rios pelo vale do Jequitinhonha; iv. no fortalecimento do pensamento e de ações ambientais, por exemplo, no Movimento Por-Poções, no relevo kárstico mineiro.

Aqui do Departamento de Educação (DPE/ UFV) assumi o diálogo com o Centro de Tecnologias Alternativa (CTA-ZM) e com o movimento sindical de trabalhadoras e trabalhadores rurais no contexto da criação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, por consequência, com a Agroecologia enquanto prática, movimento e ciências. Potencializando, em toda esta trajetória, a formação da juventude universitária a partir de atividades como o Estágio Interdisciplinar de Vivências, o Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária, o Teia/UFV, o apoio às Escolas Família Agrícolas e o Núcleo de Educação do Campo e Agroecologia (ECOA), entre outras, recebi a Medalha de Mérito em Extensão no ano de 2017. Busco continuamente me pautar pelo princípio único da indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão no estímulo ao olhar investigativo da realidade, e assim também conduzir minha ação didática em sala de aula na geração de uma formação integral e do pleno desenvolvimento dos sujeitos.

Nesse sentido estamos conclamando a todas e todos para sonharmos junt@s, em círculo, uma Pluriversitária Transição da UFV. A dar passos significativos rumo a uma Universidade Educadora e popular com responsabilidade e inserção social, assim sendo, torna-se necessário um amplo processo de mobilização da comunidade universitária para, em diálogo construtivo intra e inter os segmentos docentes, técnicos administrativos e estudantis, revermos nosso Projeto de UFV. Portanto, nossa ação de proa será a convocação de uma Constituinte Universitária para, em tempo determinado, reformular o conjunto de estatutos e regimentos de nossa universidade. Estamos ainda no alvorecer do século XXI, não justifica, administrativa e academicamente, nos manter filiados aos motes da Reforma Universitária de 1968. Muitas experiências universitárias foram e estão em curso na direção de um espírito mais colaborativo e que enfrentam o individualismo metodológico, a fragmentação de campos do conhecimento humano, bem como a escalada de mercantilização da educação e dos saberes. Basta lembrarmos dos projetos encetados por Darci Ribeiro quando da implementação da Universidade Nacional do Brasil (UNB) e da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) que reforçou a configuração de Núcleos Interdisciplinares ao invés de processos corporativos departamentais, e ainda das recém criadas Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) e da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), com projetos calcados na realidade regional, sem descurar da dimensão nacional e internacional.

A expressão Pluriversitária Transição vem sendo empregada, majoritariamente, em associação à sustentabilidade em seu sentido mais geral de transformações almejadas na cultura, portanto na sociedade em suas relações de exploração e expropriação entre grupos e classes sociais, mas também nas relações entre a sociedade e toda a complexidade e diversidade da natureza. E aqui, mais especificamente, em seu sentido epistemológico e inter-epistêmico de busca de um conhecimento prudente para uma vida decente e de uma ética cidadã planetária. Desta feita, em nossa gestão universitária, geraremos uma intensa sinergia e imbricação entre Pro-Reitorias, principalmente entre Ensino e Assuntos Comunitários; entre Pesquisa e Extensão e Cultura; entre Gestão de Pessoas e Administração.

A questão geradora de nosso modus operandi  se dará a partir das técnicas do Círculo dos Sonhos e do Círculo de Cultura, com o mote: Como eu gostaria que estivesse a UFV daqui a 6 anos de formas que reconheça que foi a melhor maneira de investir meu tempo? , que ganha o status de mobilizadora de Assembléias Comunitárias periódicas, de encontros intra e inter Centros de Ciências, Departamentos e demais  Diretorias e Setores da UFV. Assim, se possibilitará a emergência de necessidades e anseios da comunidade universitária. Assim também se conduzirão as tarefas de planejamento participativo, bem como a implementação e avaliação das ações.

A técnica do Círculo de Cultura advém da concepção Paulo freiriana da “Educação como prática da liberdade” e de suas Pedagogias do Oprimido, da Esperança e da Autonomia, e, de todo o conjunto de sua obra; e a dos Sonhos dos vínculos com o Dragon Dreaming, que John Croft sistematizou a partir das visões de mundo dos aborígenes australianos. Então, desde os inícios da elaboração deste Plano de Trabalho Pluriversitária Transição/ UFV vimos sonhando nossa UFV tomando o mote da questão geradora explicitada.

De junho a outubro de 2017, sonhamos um percurso para a UFV na perspectiva do ganha-ganha na forma de diálogos esparsos com parceiros e parceiras ufevian@s com quem mantemos  estreitos vínculos de trabalho; de outubro a dezembro de 2017 montamos o que denominamos o Comitê da Pluriversitária Transição, quando às tardes das quartas-feiras foram dedicadas a encontros na arena da Biblioteca Central, chamados a partir de perfil em rede social. De janeiro a julho de 2018 passamos a vivenciar o que denominamos uma Universidade Popular a partir da construção de uma estação de tratamento de bambus para fins construtivos junto a assentamento da reforma agrária, no município de Goianá, onde fortaleceu-se uma rede de articulação com os movimentos sociais e interuniversitária com a UFJF e com os IFETS de Rio Pomba e de Muriaé. Ademais, em 2018, durante a realização do IV Encontro Nacional de Agroecologia e da 10ª Troca de Saberes/UFV, esse contexto de relações universidades-sociedade se ampliou e se adensou na perspectiva de um Pluriversitária Transição da UFV.

Assim sendo, fruto desse concentrado trabalho na direção de uma UFV Educadora, passamos a arrolar ações almejadas pela Pluriversitária Transição/ UFV, além das já contidas neste texto e das que se somarão no processo:

. convocar uma Constituinte Universitária;

. apoiar e favorecer a mobilização a partir das organizações, associações e sindicatos internos à UFV, em prol da realização de Assembleias Comunitárias periódicas;

. centralidade no processo de internacionalização a partir do fortalecimento de parcerias latinoamericanas;

.  desenhar uma rede viária interna e em conexão municipal humanizada que contemple todos os meios de transporte, e mais fortemente a implantação de ciclovias integradas;

. que a problemática das águas receba atenção das mais atuais tecnologias da sustentabilidade, entre outras, captação e utilização obrigatória de água de chuvas; saneamento básico ecológico etc;

. examinar cuidadosamente a vida institucional de cada uma das Fundações de apoio vinculadas à universidade;

. que um dia de trabalho de todas e todos os servidores públicos ufevianos seja dedicado, concertadamente, a ações comunitárias;

.  estudar o percurso e os processos de terceirização que se assomam à universidade;

. construção de conchas acústicas permanentes em locais de periódicos espetáculos, por exemplo: na arena da BBT, no gramado das 4 pilastras;

. apoio a questões de relevância internacional, tais como a redução do uso de agrotóxicos, cuidado com populações tradicionais, com as relações de gênero, com a infância, com a juventude etc;

. que a questão da alimentação saudável, na perspectiva da soberania e segurança alimentar e saúde nos campi, seja assumida como prioridade fundamental, e, se necessário, que algumas áreas da UFV possam ser dedicadas à produção;

. também em função de acessibilidade e lazer à população local e regional, que se identifiquem, se estude e implantem possíveis corredores ambientais nos campi e desses com seus entornos, por exemplo, com a abertura de parques públicos, trilhas interpretativas etc;

. que a área física da LICENA seja imediatamente disponibilizada para a criação de seu Laboratório de Aprendizagens;

. além da bioconstrução como orientação primária para a expansão dos campi, que as coleções de bambus, criadas e montadas institucionalmente ao longo de décadas, passem a receber manejo agroecológico, permacultural e racional;

. instituir uma Chamada periódica para dedicar um ano da UFV a uma causa, por exemplo: Pluriversidade das Calhas do Rio Doce, a fim de que ela se assuma responsável por todo o Vale e Bacia, das nascentes à foz e aos dejetos que lança ao mar;

Essas são ações que se pretende implementar e que serão ampliadas e mais especificadas até novembro, durante a campanha para a realização da consulta para elaboração de lista tríplice para a Reitoria, e posteriormente, até maio, quando da posse da futura reitoria. Além do que, no processo de gestão, serão planejadas e realizadas participativamente.

 

Viçosa, primavera de 2018.

Willer Barbosa

DPE/UFV

 

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