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OPY
- Casa de Reza
Tekoa
Ka’ Aguy Ovy Porã (Mata Verde Bonita),
em São José do Imbassaí.
Maricá-RJ
Cacique
Jurema Nunes
Pajé
Dona Lídia
Darcy
Tupã
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In
memoriam Pedro Oliveira
Quero que vocês plantem frutas, legumes,
ervas medicinais, para que em momentos de crise,
possamos ter autossuficiência alimentar
para todos da aldeia.
Darcy Tupã
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Cerimônia
do Nhemongaraí & Comissão Guarani
Yvyrupa
Na Tekoa Ka'Aguy Ovy Porã; Inauguração
da OPY
Em Nova Terra Sem Males
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R
E S U M O
Com este trabalho etnográfico, buscamos com o levantamento
de demandas da (Aldeia
Mata Verde Bonita) Tekoa Ka'Aguy Ovy Porã;
apontar os caminhos de realizações e perspectivas
dos Guranani Mbya de Maricá. Em Encontro da realização
Cerimônia do Nhemongaraí do Milho; As possíveis
saídas, demandas, e soluções, foram
discutidas pela Comissão
Guarani Yvyrupa; Celebração
da Inauguração da Casa de Reza Opy,
com o tradicional batismos de crianças Guaranis;
Consolidação
da Terra Sem Males, Mbya, realizadas nos dias, Dois
de Agosto de Dois Mil e Vinte Dois. Para realização
deste artigo; Usamos como fontes de pesquisa: Entrevistas
incloco; filmagens em vídeos do Yuotube da Cerimônia
do Nhemongaraí & Comissão Guarani Yvyrupa;
monografias; site; livros; Fotos; Laudos
e Estudos Antropológicos; Demandas das reuniões
com o CEDIND e atuação Jurisdicional.
Palavras
Chaves: Guarani; Tekoa; Cerimônia do Nhemongaraí;
Comissão Yvyrupa e Terra
Sem Males.
AGRADECIMENTOS
Inicialmente gostaríamos de agradecer a comuna
Guarani Mbya, Mata Verde Bonita, pela gentileza de estar
sempre aberta ao acolhimento; pela permissão das
lideranças da Comissão Guarani Yvyrupa,
que nos permitiu, interagir, participar, trocar experiências,
na Cerimônia, Celebração da Inauguração
da Casa de Reza Opy, com o tradicional batismos de crianças
Guaranis; na Consolidação da Nova Terra
Sem Males, (Tekoa Ka'Aguy Ovy Porã), Maricá.
A Cacique Jurema que nos recebeu de braços abertos,
sorriso no rosto, em nome da comunidade guarani. A Darcy
Tupã, que não mediu esforços para
que encontrássemos a cura na Casa de Reza, em momento
da celebração e conferência Yvyrupa;
Pela possibilidade de conhecermos a comunidade no seu
interior; Entrevistar o Zé Puri, figura emblemática,
respeitadíssima que nos contou do dilúvio
guarani e a chegada em Camboinhas, donde partiram para
nova Terra Sem Males em Mata Verde Bonita. A Amarildo
da Comissão Yvyrupa, que fez os primeiros contatos
para que os Conselheiros do CEDIND, pudéssemos
participar da Solenidade Nhemongaraí do Milho e
das discussões; do agradável almoço
comunitário, tudo com muito carinho. A instituição
CEDIND, na sua importância de representação
institucional. A Miguel Veramirim, pelas palavras de Sabedoria.
Ao Júlio, pelo otimismo e perseverança.
A Vanderley da Comunidade Indígena Céu Azul,
pela acolhia. A Zé Purí, pelas palavras
fraterna. A prof. Luiz Pellon da UNIRIO, pelas caronas
em vista as aldeias e estimulo a pesquisa. A Cristiane
Xavier, Defensoria Pública do Estado do Rio de
Janeiro, presente na solenidade; ao qual todo momento
tentou encontrar um ponto de equilíbrio, de aglutinação
de propostas possíveis de realização.
Ao professor Edmundo Pereira, de TA1, Introdução
ao Estudo de Antropologia Social do Museu Nacional, pelas
leituras e estimulo para que eu descrevesse esse trabalho
como ferramenta de Lutas; bem como: ao Seminário
de e ex. Alunos, na realização e discussões
dos preparativos de GTs, em Antropologia Social 2022.
Ao Baia VIVA, Sergio Ricardo Verde, Representante do Grumim,
pela parceria e trabalho de Campo em visita as aldeias.
Aos professores e alunos do CIEP 168, Nova Iguaçu;
Em particular aos professores: Professor Cleber Siqueira
Trancoso – Diretor Adjunto; Professor Mario Thurler –
Coordenador do Projeto. Pela oportunidade de dialogar
sobre a ‘Decolonialidade e Epistemologias Locais’ em fevereiro
de 22. A Asfunrio, Associação dos Servidores
da SMDS e Fundo Rio, pela ajuda na edição
deste trabalho. A AULA, Associação Universitária
Latino Americana, Universidade Indígena e Quilombola
pela a representação no CEDIND, e apoio
a luta dos povos originários na minha pessoa, Reinaldo
Potiguara. As Comunas Indígenas que lutam contra
o Marco Temporal, e um pais melhor, com a reparação
de direito aos povos indígenas do Brasil. As comunidades
de Terreiro, pela reafirmação da identidade
nacional. A Geru Maa, Núcleo de Estudos Indígena
e Pesquisa do IFCS/RJ, pelas reuniões e troca de
saberes.
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I
N T R O D U Ç Ã O
Os dados que dispomos de povos indígenas no Brasil
segundo o Senso IBGE de 2010; A população
indígena no Brasil, está em tono de 896,9
mil aproximadamente. Acredito que esse número está
superestimado, uma vez que os pardos e negros são
mais de 50% da população brasileira, e que
hoje, o pardismo é um campo de disputa tanto para
a comunidade preta e indígena, Sabemos que os chamados
pardos, é um nome auto referenciado pelos portugueses,
para distinguir os bárbaros de pindorama, no processo
de colonização. Com relação
ao povo e nação guarani, sua localização,
apontam estudos, que os guaranis estão localizado
mas especificamente em: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai
e Bolívia. Segundo o Conselho Indigenista Missionário
A estimativa do da população guarani seja
de 225 mil pessoas.
“Em
nosso país, essa população está
em torno de 55.302 índios, distribuídos
principalmente nas regiões Sul (Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná), Sudeste (São Paulo,
Rio de Janeiro, Espírito Santo) e Centro-Oeste
(Mato Grosso do Sul). Trata-se de uma das maiores populações
indígenas do país, representando 10,2% do
total de índios em território nacional Espírito
Santo) e Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul). Trata-se de
uma das maiores populações indígenas
do país, representando 10,2% do total de índios
em território nacional do Sul, Santa Catarina,
Paraná), Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro,
Espírito Santo) e Centro-Oeste (Mato Grosso do
Sul). Trata-se de uma das maiores populações
indígenas do país, representando 10,2% do
total de índios em território nacional”
Para
o povo guarani Mbya, a Casa de Reza é onde são
realizados os festejos, cura dos males. Através
de cânticos, rezas e fumaça do cachimbo sagrado.
A pajé (o) recebe as mensagens de cura para os
integrantes da aldeia, através do sopro divino
de Nhaderu Ete. Segundo Brighenti: “Os elementos indispensáveis
ao tekoa são uma região de mata preservada
(necessária à caça, coleta e perambulação),
uma área cultivável para as plantações;
e, por fim, o espaço social da aldeia, onde ficam
as casas de moradia e de reza (opy)”. Daí a busca
constante pela Terra Sem Males, onde possam criar seus
filhos com comida em abundância, por isso migram
constantemente para outro lugar, e depois retornando ao
local de Origem. Para Hélène Clastres: A
Terra Sem Mal, é antes de tudo um lugar de abundancia:
o milho cresce sozinho e as flechas vão também
sozinhas à caça. Uma Terra livre, sem proscrições.
É a contra-ordem, a plenitude da liberdade. O trabalho
e as leis são portanto, o Mal criado pela sociedade”.
Já na Cerimônia do Nhemongarai, todos membros
da comunidade, suas famílias, participam da cerimônia
na opy’i para escutar ayvu porã dos xamoi kuery
e xaryi kuery. E na Opy que acontecem os rituais. A noite
todos entram na casa de reza para dançar, cantar
e rezar, utilizando o petyngua. Segundo Darci da Silva
- Karaí Nhe'ery, em sua monografia disponibilizado
na internet:
[...] É através do petyngua que o xamoi
busca a conexão com Nhanderu para obter ayvu porã
e também para abençoar todas as pessoas
que estão no ritual. É com o petyngua que
se fazem os agradecimentos do dia a dia e também
para que seja abençoado o Nhemongarai, agradecendo
todos os espíritos das crianças e dos adultos,
que fortalecem o xamoi. A fumaça do cachimbo leva
o pensamento das pessoas para yva. Quando se fuma o cachimbo
tem que ter xerovia no que se deseja. Precisa enviar a
fumaça do cachimbo para o céu e Nhanderu,
através disso, terá acesso ao pensamento
e assim se alcança a realização desses
desejos. É através do petyngua que se busca
o conhecimento sobre a cosmologia mbya. Dessa forma que
rituais são praticados nas aldeias. Esses rituais
e toda a cultura guarani estão ligados a nhande
reko que nós guarani vivemos na tekoa. Todos esses
conhecimentos nós adquirimos com xamoi kuery e
com xaryi kuery, através dos ensinamentos na opy’i.
Para agradecer a nhanderu, os sábios podem utilizar
a palavra aguyjevete dentro da opy’i. Eu não posso
falar aguyjevete fora da opy’i. Pode falar aguyjevete
para os xamoi kuery e xaryi kuery e quando você
busca algum conhecimento dentro da opy’i. Você pede
a Nhanderu o fortalecimento da vida, a proteção
à nossa família e então agradece
com aguyjevete. A palavra que mais utilizamos é
ha'evete, que significa obrigado. Se usa quando você
agradece a um amigo pela bondade. Não se pode dizer
ha'evete para Nhanderu, tem que dizer aguyjevete. (Silva,
Darci, pag. 16 e 17).
A
Comissão Guarani Yvyrupa, é uma comissão
formada por lideranças indígenas e não
indígenas, cujo o objetivo é levantar as
demandas nas aldeias guaranis e buscar soluções,
desde no âmbito do poder público, legislativo,
executivo e judiciário, sejam na iniciativa privada,
e ou mesmo: representações institucionais
por meio de associação o Conselhos, como
é o caso do CEDIND, (Conselho Estadual dos Direitos
Indígenas do Estado do Rio de Janeiro. Os fluxos
guaranis e o movimento guarani, se articulam entre as
aldeias é a intensa rede de trocas e fluxos populacionais
em rede. É comum encontrar os guaranis, distribuídas
por uma extensa região no sul do continente.
“As diversas terras Guarani não estão isoladas,
mas interligadas por redes de parentesco e reciprocidade.
Os Guarani “mantêm entre si estreitas e intensas
relações políticas, matrimoniais,
religiosas e econômicas. Seus moradores vivem em
constantes visitas uns aos outros. A população
Guarani, apesar de se fixar durante períodos de
até vários anos em determinadas aldeias,
circula entre diferentes áreas, e dificilmente
se encontram numa família pessoas que não
conheçam ou não tenham vivido em outras
aldeias”.
Na primeira parte deste trabalho, fazemos breve resumo
das discussões na Opy, levantadas em Conferência
da Comissão Yvyrupa; Inauguração
da Casa de Reza e Batismo e Nhemongaraí do Milho.
Na segunda parte deste trabalho, falamos de Diálogos
Ancestrais, Puri, guarani e potiguara, ocasião
em que a pedido de Darcy Tupã, fomos conhecer Zé
Purí, Xiramoy, de grande respeitabidade na comunidade,
onde nos permitiu através de entrevista inloco,
conhecer um pouco da sua cultura, saber cosmológico
e ancestralidade. Por último: Analise conclusiva
com as principais propostas e demandas apresentadas a
Comissão Yvyrupa, norteadoras das ações
a serem materializadas com luta.
Senso
IBGE, 2010
Terras
Guaranis do Sul e Sudeste – Comissão Pro índio
de São Paulo (2009) Carolina K. I. Bellinger Daniela
Carolina Perutti; Lúcia M. M. de Andrade;
Helena
Clastres; Tradução Renato Editora Brasiliense
1978
Darci
da Silva - Karaí Nhe'er - NHEMONGARAI: RITUAIS
DE BATISMO MBYA GUARANI; Florianópolis 2020.
Comissão
pró-índio de São Paulo; Guarani Mbya
e Tupi - AS TROCAS E FLUXOS POPULACIONAIS: O MOVIMENTO
GUARANI
RITUAL
NHEMONGARAI EM MATA VERDE BONITA
BATISMO NA OPY & COMISSÃO YVYRUPA 2 a 4/8/22
Nos dias Dois à quatro de agosto de Dois Mil e
Vinte Dois, na Aldeia Mata Verde Bonita, em São
José do Ibassaí, Maricá, realizou-se
o tradicional RITUAL NHEMONGARAI (Avxi’i) momento em que
celebra-se o milho sagrado para os guaranis, e/ou ritual
de batismo do milho. Em dado estante depois do almoço
no primeiro dia, fomos convidados adentrar OPY (Casa de
Reza), e sentarmos nas cadeiras para ouvir a Cerimônia
de Abertura dos Diálogos em Conferência,
Yvyrupa. Darcy Tupã, membro da Comissão
Yvyrupa, abriu a solenidade Nhemongarai, convidando todas
as famílias guaranis de várias aldeias presentes,
lideranças indígenas (Tery) convidados,
autoridades para ouvirem as lideranças. Dando início
a solenidade. Convidou o Amarildo com o seu ( Mbaraka
) violão com afinação guarani (o
violão guarani, que tem cinco cordas, porque cada
corda tem seu significado); E em conjunto com o Coral
guarani da aldeia Tekoa Ka'Aguy Ovy Porã, para
ouvirmos e cantarmos (opy’i) escutar ayvu porã
dos xamoi kuery e xaryi kuery; Atrás (Nhamandu
amba) altar do deus do sol, que fica na direção
leste, onde nasce o sol; (Nhande kupe oeste), onde o sol
se põe (nhande: nosso, kupe: costas) em homenagem
(Nhanderu) nosso Pai Supremo, Deus Criador; após
a pitada (Petyngua) cachimbo sagrado que traz a conexão
para as falas sagradas, é utilizado nas cerimônias
e também é utilizado para curar as pessoas.
Logo após a saudação do Coral, foi
chamada a Cacique Jurema Nunes, para a sua (Ayvu ete)
fala verdadeira, que vem do nhe’e. Jurema resumiu a resistência
dos guaranis em permanecer em Mata Verde Bonita, lugar
que é sagrado para seu povo. Dizendo que a comunidade
quer a Titulação Definitiva por parte do
poder público da Aldeia Tekoa Ka'Aguy Ovy Porã
é o desejo de todos. Fez breve retrospecto as saída
de Camboinhas pra Lá; Do manifesto assinado por
todos da aldeia encaminhado as autoridades. E que esperava
dos Xondaros e a Comissão Yvyrupa, DPU, DPE, CEDIND,
Prefeitura de Maricá, no fortalecimento dos ideais
guaranis, e consolidação de políticas
públicas, nas áreas de saúde, educação,
cultura, saneamento, dentro da aldeia. Agradeceu a presença
de todos nos esforços da realização
da cerimônia Nhemongarai; o batismo de homens e
mulheres da aldeia; esperando que tudo ocorra bem por
força de Nhanderu ete.
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Em
seguida Darcy Tupã, faz breve retrospecto da chegada
na aldeia Mata Verde Bonita, e a alegria de estar neste
território, onde cerâmica guaranis, encontravam-se
enterradas junto ao Cemitério indígena a
mais de três mil anos. “Não acredito, a gente
pode morar aqui; vamos construir aqui nossa aldeia? Então,
Vamos fazer a reza aqui, e se os nossos ancestrais permitirem,
a terra é nossa”, para alivio de todos. “Então
foi assim, meia hora depois os parentes saíram
correndo por todo canto e dizendo: vamos nos mudar logo
pra aqui. A transição de sair de Camboinha
pra cá levou um ano. Já tínhamos
conseguido tombar Camboinha como área de território
sagrado guarani. E no dia 19 de abril, vieram seis famílias.
Em quinze minutos que estavam aqui, apareceu Juruá
ai em frente, dizendo que era dono daqui. Na nossa chegada
mapeamos tudo através de drones e só faltou
a assinatura do prefeito de Maricá Quaqua. Em seguida
nos mobilizamos para colocar luz, e assim estamos aqui
a dez anos. Aqui neste lugar já temos mortos enterrados
aqui. E pra nossa cultura isso é muito importante;
pois, na nossa cultura, o que morre é a carne e
não espirito. O nosso povo está aqui antes
dos colonizadores espanhóis e portugueses. Estive
na França recente e estamos em articulação
de realizarmos jogos indígenas na aldeia. Soube
que estavam fazendo obra em cima no território
indígena, fiquei muito preocupado. A prefeitura
de Maricá deu alvará para construção
o Resort. Eu quero entender? Pois, passados mais dez anos
aqui na aldeia; ainda não temos resolvido o problema
da agua. A CRFB, diz que independentemente de estar codificado,
é direito da população: saúde,
educação, esporte e cultura. Meu pai antes
de ir para onde repousa os mostos, três dias antes,
pediu para plantarmos frutas para as crianças,
laranja, banana, e outras, para que em momento de crise,
possamos ter autonomia alimentar. Tirar os indígenas
daqui para fazer Resort para estrangeiro é besteira.
Chega de promessas das autoridades dizendo que apoia a
cultura, apoia a aldeia, chega”, lamentou. Luiz Pellon
da UNIRIO, disse que não tem certeza, porque teria
que perguntar a especialistas do Direito, se “o fato de
ter plantações e edificações
no território, é o suficiente para o usucapião;
pois, o fato de ter mangueira produzindo na aldeia, não
é o suficiente”, salientou. Toni Lotar contribuindo,
argumentou que a prefeitura de Maricá, pediu a
FUNAI em 2009, para fazer o estudo. “NA época a
Secretaria de Direitos Humanos, Zeidan, que fez o estudo
preliminar, da solução; pois temos o poio
do CEDIND a própria Comissão Yvyrupa, que
está através dos meios jurídicos,
provocando o Judiciário para uma solução.
Pois não faz sentido dez anos de promessas”, acrescentou.
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Darcy
Tupã: “É verdade, aqui não foi invadida,
foi prometida, e esse ano, é ano de conquistas”,
emendou. Em seguida passou a palavra para Miguel Veramirim.
“É importante ressaltar que os nossos tiramoy,
não estão mas conosco. Antigamente eles
saiam por nossos territórios passando as informações,
após receberem mensagens na Casa de Reza. Por isso
a importância da Comissão yvyrupa, para lutar
por nossos direitos aqui. Eu não me adapto morar
na cidade, meu espirito não aceita. Eu posso ter
dinheiro, mas meu corpo não vai aceitar. Eu vou
querer voltar pra aldeia, pois aqui está a nossa
saúde. Ainda quanto eu tinha doze anos, perguntaram
o que é mais importante para a aldeia, era uma
maneira dos tiramoy saber a opinião dos jovens.
Fiquei muito reflexivo pensando, será minha família,
minha casa, meu filho, meu tio, porque todos são
importantes. Depois cheguei à conclusão
que era a Opy. Quem vai decidir se vamos ficar aqui é
Nhanderu, pois é ele que nós dar saúde,
não é dinheiro, é isso”, ponderou.
Em seguida foi dada a palavra para a Defensora Pública
Cristiane Xavier, agradeceu a acolhida por estar aqui
na aldeia pela primeira vez. “É muito importante
ouvir as falas e os lugar de falas, e que possamos refletir
sobre o Brasil que não está na internet,
na universidade, rodas de conversas do Juruá, e
talvez seja o gargalo para não conhecermos a nossa
história. Porque esse dezenove de abril que aprendemos
na escola é muito simples, singular, folclórica,
e que não expressa a nossas necessidades. E fico
me perguntando: O que as instituições estão
fazendo pra essa comunidade? Tem alguma demanda relativo
a documentação, agua, e outros? Pois entendo
que a questão da ancestralidade e direitos indígenas
devem ser preservadas. Neste momento do senso, que vai
mapear as cidades, os municípios, é um momento
importante para o reconhecimento da nossa cultura. Eu
trabalho com a população em situação
de rua para garantias de direitos, estou aqui otimista
para aprender e somar com vocês aqui na aldeia”.
Em seguida, falou a Dra. Tamires da Defensoria Pública
do Estado do Rio de Janeiro, que falou do seu entusiasmo
de estar na aldeia Mata Verde Bonita, e que está
atuando na área de direitos humanos, e que está
aqui para lutar e apoiar todas as formas de conquistas”,
ressaltou. Em seguida foi dada a palavra ao Júlio
Guarani, que fez breve explanação das dificuldades
das aldeias, e chamou atenção aos assassinatos
no campo e aldeias. “Várias lideranças estão
sendo mortas. Além disso o discurso de ódio
do governo, influência a violência contra
os povos indígenas. Chegamos ao absurdo de ver
ao vivo até da polícia federal agir com
truculência, violência, e isso preocupa. Estamos
resistindo a discriminação, e continuando
a luta. É difícil traduzir essa violência.
Chegam até falar que os Cocas dos indígenas
tem que está no museu, isso nos entristecem. Mesmo
tendo royalties de petróleo em Maricá, vimos
as escolas abandonadas, sem material didático,
com um município rico. Nós indígenas
vimos isso constantemente dentro das aldeias e é
o momento da Comissão Yvyrupa, levar nossas demandas”,
realçou.
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Com
a palavra, Dra. Gabriela da Comissão Yvyrupa, fez
uma avaliação das principais dificuldades
enfrentadas pelas aldeias guaranis, e da importância
da luta. “Começamos no Vale do Ribeira, com mais
de trezentas lideranças indígenas discutindo
a criação desse nome Yvyrupa, que nos liga
a todo esse globo terrestre aqui na terra. É o
lugar onde vivemos, te todos os lugares viventes. Criamos
um CNPJ, e como estratégias: buscamos financiamentos,
elaboração de projetos, contratação
de profissionais que traduzam para o mundo Juruá,
os direitos das terras guarani. O foco é a Defesa
Territorial e Demarcar todas as Terras indígenas.
Agente tem um governo que prega um discurso, dizendo que
nenhum território vai ser demarcado. Agente tem
na FUNAI, uma pessoa que está lá pra dificultar
a reparação ou fazer garantir a Lei. A FUNAI,
desmobilizou internamente os Departamentos Internos, para
dificultar as Homologações de Terras Indígenas.
E seu papel não está sendo cumprido, como:
identificar, delimitar, demarcar terras indígenas;
Coordenar e implementar políticas voltadas a proteção
dos povos indígenas isolados e recém descobertos;
Elaborar ações que visem assegurar a diversidade
cultural entre os diferente grupos étnicos; conservar
e recuperar as terras indígenas, no que tange à
paisagem, aos ecossistemas e aos recursos naturais e monitorar
as políticas que se destinam a seguridade social
e a educação escolar indígena. Ou
seja: Tudo isso sem andar, sem solução.
Durante muitas vezes, os pareceres da FUNAI, são
contra os povos indígenas. A Terra indígena
do Jaraguá, estamos sendo ameaçada, pois
querem fazer empreendimento imobiliário que vai
impactar a vida dos povos indígenas lá.
Só queremos fazer e defender os interesses que
está na lei, não é benevolência,
mas cumprir o que está na CRFB, artigos 231 e 232,
e fazer respeitar. Aqui em Mata Verde Bonita, tem estratégias
que devemos discutir internamente dentro da comunidade.
Mas qualquer licença, qualquer parecer, tem que
ter a consulta a comunidade. Tem que ter a consulta previa
e bem estabelecida. E que esse nome Maraey, ‘Terra Sem
Males’, é um uso improprio desse empreendimento.
E mesmo sabendo que tem povos indígenas no território,
não estão sendo cumprido o protocolo. Então
o que exigem além do EIA, o Estudo de Impacto Ambiental,
é a consulta a aldeia.
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Então,
tem uma condicionante de consulta aos povos indígenas,
porque não estão sendo levados em consideração
os estudos técnicos científicos, antropológicos,
geológicos, biológicos, do modo de ser indígena.
Nós não queremos só Judicializar
a luta. Mas enquanto assessoria jurídica aqui nessa
reunião na comunidade, é pra saber o que
fazer. Existem duas ações civil pública,
em andamento que não fala dessa comunidade indígena.
Estamos com a DPU, estabelecendo estratégias para
garantir os direitos. Não estamos aqui dizendo
que o empreendimento tem que sair, estamos querendo ser
ouvidos e saber os quais impactos que esse empreendimento
vai causar. E ai saber se terá compensação;
se vamos sair, se vamos para outro lugar. Mas tem que
ter amparo cientifico. É muito estranho vir para
Mata Verde Bonita, e com uma boa relação
com a prefeitura de Maricá, os órgãos
responsáveis pela questão fundiária
não participem. Eu não sou sozinha, é
uma equipe de trabalho, administrativa que faz a comissão
funcionar” ratificou. Com a palavra Toni Lotar, disse
que chegou a hora da Comissão Yvyrupa, local, se
articular. “Precisamos mostrar a prefeitura de Maricá,
a situação real, para dotar a comunidade
de autonomia alimentar. Não somos contra ninguém,
a penas queremos os nossos direitos. Conquanto CEDIND,
nós votamos o total apoio a permanência da
comunidade Mata Verde Bonita” resumiu. Darcy Tupã,
com a palavra, disse que a luta indígena é
de todos os povos indígenas. As crianças
aqui na aldeias são muito ligada na escola, elas
gostam muito. Tem boa merenda, professores, e as crianças
gostam. Eu vou em Paraty Mirim, eu vejo uma escola que
foi construindo pelos mais velhos, funcionando precariamente,
faltando material didático e isso me entristece.
Aqui se tivermos água, teremos tudo. Eu fico muito
emocionado, mais acredito que vamos conquistar muita coisa
ainda”, refletiu.
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Em
seguida foi dada a palavra a Reinaldo Potiguara, o mesmo
defendeu o direito da permanência dos guaranis em
Mata Verde Bonita, e a titulação em definitivo
com a demarcação. “É importante ressaltar
que os indígenas tem direito o direito a uma qualidade
de vida satisfatório; E que as autoridades, a prefeitura
de Maricá tem que se empenhar em consolidar a permanência
na aldeia. É bom lembrar que os guaranis já
estão aqui muito antes dos português e espanhóis
conquistarem esse território. E o direito a uma
boa qualidade de vida está assegurado na Convenção
Sobre Povos Tribais, a OIT 169, ao qual o Brasil é
signatário. E o Juruá com suas leis tentam
desconhecer um direito natural, que é anterior
a própria constituição deste estado.
Estamos falando em uma antítese, em que se sustenta
na família, nos Tiramoy, no trabalho coletivo,
no respeito ao próximo, a não depredação,
poluição, defesa do ecossistema equilibrado.
E Isso é o DNA guarani. Essa cosmovisão
guarani antecede a escrita do branco, suas leis e costumes.
Como disse Pierre de Clastres, em A Sociedade Contra o
Estado: A luta do povo guarani ela é natural contra
o estado, porque não estamos falando de reis, imperadores,
governadores, de gestão pública de estado.
Mas de um estado natural, em perfeita harmonia, equilíbrio
com a mãe terra. Os brancos estão preocupados
no acúmulos de bens, dinheiro e poder. Os povos
originários estão preocupados em ter uma
vida serena, sadia, com a graça de Nhanderu. Os
liberais do governo, falam em estado mínimo, que
o estado não tem que ter regulação,
mas é só da boca pra fora. Porém,
quando estão lá, utilizam o estado para
favorecerem suas empresas e seus familiares. E se tem
uma Universidade, academia como diz o Juruá. Eu
entendo que academia é aqui na OPY, na cada de
reza. Os brancos tem muito que aprender com o modo de
ser guarani. E pra mim é muito gratificante estar
com os guaranis, aprender, ter a oportunidade desse momento
de cura. Almoçar coletivamente, dançar,
tomar chá, falar com os mais velhos. Ter a oportunidade
de ter um momento de cura espiritual. com a oração
do pajé; respirar o ar, andar descalço,
ter uma prosa. Tudo isso pra mim, é qualidade de
vida e não acumulo de bens. A nossa riqueza é
nossa saúde. Não é demais pedir ajuda
a prefeitura de Maricá, da sua intervenção,
de seu apoio institucional. Percebemos já a presença
do estado, através da Companhia de Limpeza; Dos
agentes de Saúde; Profissionais de Educação;
Segurança pública. Mas o que falta? Em se
tratando de administração pública,
falta a presença física dos órgãos
ambientais, jurídicos para a consolidação
do território. E a Comissão Yvyrupa, tem
essa tarefa da articulação jurídico
político; mas não só isso. Queremos
uma troca sadia como cidadão desse pais. E essa
solenidade do milho; inauguração da Opy,
do batismo de nossas criança, possam nos energizar,
e que saiamos daqui uma pessoa muito melhor”, agradeceu.
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Com
a palavra Dra. Cristiane Xavier da Defensoria Pública
do Estado do Rio de Janeiro, fez uma crítica ao
imobilismo para identificar a necessidade da Aldeia Mata
Verde. “Vamos saber qual as demandas: Já sabemos
que a água é uma delas. Então, precisamos
ver a dimensão dos fatos administrativos, sensibilizar
as autoridades, para ver o resultado dessa mobilização.
Não adianta eu falar várias coisas nesse
mundo programático, sem ter certeza das ações
concretas. Tenho que chamar o poder público municipal?
Estadual? Temos projetos para buscar recursos, eu não
sei? E uma vez não tendo êxito, buscar outras
intervenções. A dor eu já identifiquei
aqui. Uma delas é a realização da
Casa de Reza. O Resort é um complicador e os problemas
são diversos, são vários no estado,
sabemos disso. Mas a resistência a tudo isso não
tem preço, faz parte de uma consciência cidadã.
Essa intervenção pra mim já está
marcada como referência. Então o que precisamos:
precisamos sim de instrumentos de atuação
para focar me projetos viáveis nas aldeias. Eu
digo: vamos avançar um passo e depois outro. Como
Defensora Pública, eu gosto de realizações.
Pensar em solução e é essa força
da minha contribuição, sejam: com a Cacique,
o poder municipal, a secretaria do Meio Ambiente, o que
podemos fazer? Isso é o que meu coração
está dizendo”, concluiu. Com a palavra Vandeley,
da Aldeia Céu Azul de Maricá, agradeceu
a Comissão Yvyrupa, e que está sendo articulado
uma parceria com a prefeitura de Maricá, um lugar
melhor, um espaço para nossos povo. E que um encontro
como esse, traz melhorias pra nossas comunidades. Sem
a garantia do espaço, do território, não
se tem saúde. Essas palavras dos Tiramoy, sagrada,
com união vamos trazer direitos. Está na
hora de a gente se organizar, mandar oficio, bater na
porta de Juruá, porque tudo tem limites. Eu fecho
por aqui minha fala, e espero que façamos a articulação
com outras aldeias para consolidar nossos direitos”, sustenizou.
Em seguida, passou-se a Celebração de Inauguração
da Casa de Reza, com cânticos de louvor a Nhanderu
Ete; Os Xondaros começaram fumar o Petyngua; A
pajé em momento de Cura, limpou o território
com sua espiritualidade elevada. Após a oração
coletiva, a limpeza da alma, podemos sair da Opy, livre,
leve e solto; com a certeza de que os desafios são
muitos na saúde, educação, cultura,
lazer. Mas como ali também estavam os espíritos
dos mortos, do saber dos Tiramoy e a fortaleza dos Xondaros
(as). A porta se abriu para que saíssemos. Mas
a cerimonia continuou, pois na Casa de Reza Mbya, um guerreiro
fecha a porta. E só é permitido sair depois
que os ancestrais autorize e que aconteceu. Depois gentilmente,
fomos saindo de fininho, sem prejudicar o ambiente sagrado;
com os Xondaros nos levando até o transporte com
toda segurança de Nhanderu Ete.
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Encontro
das Ancestralidades Guarani, Purí e Potiguara na Aldeia
Tekoa Ka'Aguy Ovy Porã, Maricá: Zé Purí,
Darcy Tupã, Reinaldo potiguara, Sergio Verde Potiguara
e Wender Puri; Na Cerimônia do Nhemongaraí &
Comissão Guarani Yvyrupa, 02/á/04//08/22.
As
quatorze horas do dia do quatro de agosto de 2022, ocasião
de confraternização da Inauguração
da Casa de Reza (Opy); realização da Cerimônia
do Nhemongaraí & Comissão Guarani Yvyrupa, realizada
na Aldeia Mata Verde Bonita, em momento de são refletidas
as problemáticas de âmbito nacional, e apontadas
saídas, para o bem viver guarani; a principal, a consolidação
dos territórios guaranis; o fortalecimento da língua;
costumes e tradições; crenças, atividades
sociais, culturais, esportivas; convivência e prevenção
interétnico; e o convívio com Juruá. Segundo
estimativas da imprensa: “Existem aproximadamente, 280 mil pessoas
Guarani distribuídas em 1461 comunidades, aldeias, bairros
urbanos ou núcleo familiares nos quatro países.
A maior parte da população Guarani – 85 mil pessoas
– vive no Brasil, seguidos de 83 mil na Bolívia, 61 mil
no Paraguai e 54 mil na Argentina”. No Rio de Janeiro, Em aldeamentos
vivendo em aldeamentos, em média, segundo dados levantados
pelo CEDIND, tem aproximadamente 1200 indígenas e em contexto
urbano, segundo o senso de 2010, que está defasado: No
Brasil, foram diagnosticada 817 mil que se autodeclararam indígenas,
sendo 315 mil morando em áreas urbanas. Com no novo senso
2022, acreditamos que esse número vai crescer em face da
mobilização nacional dos povos indígenas
pela maior grau de conscientização e engajamento
na luta do reconhecimento indenitário. Em momento de descontração
depois de um almoço comunitário. Em bato papo informal
embaixo de uma arvore a pedido de Darcy Tupã; Fomos conhecer
Zé Puri’, 69 anos, parente de Darcy que se encontra em
convívio e morando na aldeia guarani à mais de 10
anos, que em guarani tem o nome, Tekoa Ka'Aguy Ovy Porã.
Aproveitando o momento de digestão dos alimentos e esticando
as pernas. Darcy Tupã, nós chama atenção,
para conhecermos uma figura na aldeia de bastante prestigio, seu
parente Zé Purí e que deveríamos conhece-lo.
Com a concordância de todos, nos dirigimos para casa do
Zé Puri, a poucos metros do rio. Ao chegarmos fomos bem
recebidos por ele.
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Darcy
Tupã, falou que desejaríamos trocar uma prosa sobre
a sua permanência ali na aldeia; O que prontamente houve
concordância de falar conosco. Com a palavra, Darcy Tupã
fez uma breve apresentação do Puri, afirmando: “Zé
Purí, além de conselheiro; apoiador; construtor;
mateiro; erveiro; É líder inconteste, e reconhecido
pelo nosso povo guarani com uma grande liderança”. Abrindo
o diálogo proposto por Darcy. Sergio Ricardo potiguara,
faz breve retrospecto sobre o bioma da mata atlântica; da
importância dos diálogos que estamos realizado da
três etnias: potiguara; purí e guarani na aldeia
Mata Verde Bonita, que em guarani: chama-se, Tekoa Ka'Aguy Ovy
Porã; Da importância de falarmos de cosmovisões
e sensações diferentes e Legado Guarani; A herança
da sabedoria guarani Mbya, na Cerimônia Nhemongaraí
& Comissão Guarani Yvyrupa. Com a palavra, Darcy Tupã
disse da importância de registramos esse momento de grande
significado particular, pois a muito queria prestar uma homenagem
a Zé Purí: “Acredito muito em Nhandearu (Deus),
que nessa passagem pela terra, nos proporciona uma caminhada especial
em nossas vidas”. E continua: “Conheci seu Zé Purí,
através de sua filha Nama em passeio no Rio. Nos casamos,
tivemos dois filhos, e com o convívio tive oportunidade
de conhece-lo em MG, Sete Lagoas, um lugar conhecido como Serra
do Cipó”. Segundo Darcy, a filha falava e comentava muito
dele até que nos conhecemos”. Darcy descreveu Zé
Puri, como uma pessoa pequena em estatura: “O legal que por ter
um metro de índio, ninguém acreditava na sua capacidade
como construtor; Mas, ao velo com a mão na massa, percebeu
tratar-se de um excelente construtor”, adiantou. “Conheci ele
construindo uma casa gigante, não acreditei que um índio
tão pequeno pudesse construir aquela casa. A nossa história
é assim, coisa de família, de parente. Hoje Zé
Purí, faz dez anos aqui na Aldeia Mata Verde Bonita”. Com
relação a lideranças respeitadas pelos guaranis
do Estado do Rio de Janeiro, argumenta: “Existe dois que nós
reconhecemos como ‘Xeromoy’, guerreiros: Augustinho’ (Karai Tataendy)
de Araponga e Zé Puri, que hoje mora e faz parte da Aldeia
Gurarani”. Para Darcy, tanto Augustinho como Zé Purí,
tem muita força espiritual, conexão com a natureza;
E que nos guia para bom caminho e uma vida melhor”.
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Com
relação a Zé Purí, conta um segredo:
“Desejo resolver a sua aposentadoria é meu desejo”. E continua:
“Ainda não está aposentado, mas é o nosso
desejo que ele tenha seus direitos garantidos para os momentos
que ainda restam, tenha uma vida digna”. Narrando fleches da sua
história de vida, Zé Purí, nos conta: “Eu
vim de Minas Gerais, um lugar conhecido como Jaboticatubas, na
‘Serra do Cipó’, em ‘Conceição do Mato Dentro’,
beirando a Serra na estrada Rio abaixo. Minha família foi
nascida e criada dentro do mato, dentro da roça. Nós
roçava tudo e plantava de tudo. Tudo que plantávamos,
colhíamos e guardávamos para as despesas futuras”.
Essa rotina, fazíamos todos os anos. Meu avô tinha
50 alqueires de Mato que deixou para os filhos. Ele não
deixava agente destruir o mato. Ele dizia: “Está vendo
aquela varinha ali” descrevendo. “Daqui a dez anos ela plantada,
é uma peça para fazer uma casa. Se você cortar,
o que você vai ter no futuro? Ele dizia: deixa o mato crescer”,
não corta o mato”. Dentro da nossa terra, tinha um correguinho
que me chamava atenção, disse: “Você não
está vendo agente buscar aquela agua quando o rio enche?
Aquela agua limpinha que bebemos”, indagou? Esclarecendo: “Aquele
córrego depois de três dias, você verificou
que a agua abaixo, no fundo está limpa? Você percebeu
que o lixo se acumula embaixo, e em cima está limpo? Não
é assim em uma lata d’água, descreve? E continua
descrevendo a fala do seu pai: “É por isso que não
se pode cortar nada, senão não vamos ter agua quando
precisarmos”, resmungava. “Assim, nós fomos criados: bebendo
remédio do mato com casca de raiz, sementes e folhas. A
minha avó era tratadeira. O nome dela é Maria Gomes
Ferreira, e meu pai, Miguel Lopes. A minha Vó, foi pega
no Laço, em uma emboscada e levada para casa do meu pai.
Aos poucos foram convivendo e vivendo. A minha mãe era
braba de mais. Eles tiveram que ir amansando ela, convivendo até
ela se tranquilizar”. Com relação à ancestralidade,
conta: “Eu fiquei com dois sangues: um por parte da minha mãe
e outra por meu pai. Por parte da minha mãe eu sou Purí.
Eu sou o primeiro neto da família, e minha avó tinha
muito respeito e carinho comigo. Como descendente Purí,
eu tinha enorme prazer de falar com ela”, relembra. “Eu costumava
ir pro mato, amolar o facão para plantar. Ela dizia: corta
essa raiz, corta essa planta, para fazer remédio. E foi
assim que aprendi com ela. Nunca precisei usar os remédios
da farmácia; nunca precisei ir ao hospital até hoje”,
descreve. “Meu remédio é da natureza, é do
mato”. Com relação ao fumo, descreve: “Comecei a
fumar cigarro de palha na roça, aos 15 anos. Era tanto
mosquito que agente fumava cigarro para espantar os mosquitos.
Meu avô falava: “acende um cigarro ai meu filho e vai soltando
essa fumaça para espantar os mosquitos”. Até hoje
eu fumo, não tem como parar. Ai aprendi com meu avô
plantar, cuidar das coisas. Ele não tinha muita criação
de bichos, ele não gostava. Ele dizia que não ia
mexer com essas coisas: ‘deixa o mato ai’ dizia. Eu puxei meu
avô nesse ponto. É bonito ver a planta crescer, agente
respirar esse oxigênio pela manhã, sentir o cheiro
da flor com orvalho”, resmunga. “Isso é remédio
pra nós, é saúde”.
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Fazendo
um paralelo entre homem e mulher, descreve: “O homem quando se
casa, ele arruma uma mulher e tem que cuidar dela; Assim é
também com a flor é do mesmo jeito; Você tem
que cuidar dela para ela viver bem”. Dando ênfase ao seu
raciocino diz: “Se você tiver um jarro de planta e deixar
lá por três meses, abandonada, você vai encontrar
ela seca. Então, assim como a mulher. Você tem que
olhar para planta para saber se ela tem praga ou não, ai
você retira aquela que está contaminando e corta;
procura saber se ela está precisando de agua; Se precisa
de sombra, o que ela está precisando, igualzinho a mulher.
Hoje eu chego lá em casa do meu pai, ainda hoje no correguinho
tem agua limpa. Mas se cortar o mato ai não tem não;
não vai ter nada. Então, é assim que vamos
zelando pela vida. Eu não tive estudo, não tive
como estudar. A escola era muito longe, não tínhamos
como ir até lá. Ou você trabalhava ou estudava.
As vezes ficávamos anos sem ter dinheiro no bolso”. Com
relação aos alimentos, descreve. “Quando não
tínhamos e precisávamos de um alimento: trocávamos
milho por feijão; porco, por outro animal, ou comida com
quem tinha”. As coisas eram muito longe, diz; “Nos andávamos
desde das seis da manhã até as seis da noite pra
comprar um pouquinho de café pra torrar em casa, e as vezes
não achava. Quando você encontrava, você ganhava
o dia. Tudo era muito difícil. Da minha casa a ‘Sete Lagoas’
era cem quilômetros. O Cara vinha de longe, de lá
pra vender algodão, milho, deixar aqui e retornar. Em Sete
Lagoas tinha uma fazenda, um armazém muito grande; Tinha
um curral para entregar, pesar as coisas e deixar lá. Ali
você vendia seus produtos e pegava o que precisava”. Com
relação ao transporte de carro, diz: Quando eu vi
um carro pela primeira vez na vida na minha terra, era coisa doutro
mundo”, descreve. “Ontem, eu bem sentado aqui outro dia, veio
um helicóptero aqui bem perto do céu, filmando tudo”,
em sinal de espanto. Sergio Ricardo, retruca: “Deve ser os espanhóis”,
uma alusão ao Resort Maraney, que quer retirar os indígenas
de ‘Mata Verde Bonita’. Darcy aproveita para fazer uma crítica
ao uso do celular na Aldeia e os cuidados com essa nova tecnologia,
e a influência da bebida alcoólica pode acarretar
aos jovens da aldeia? “Essa coisa do celular aqui na aldeia, temos
ter cuidado. Devemos chamar atenção, falar com os
jovens da implicação dessa tecnologia quando entra
na aldeia; Dos problemas da bebida alcoólica, e as consequências
que ela traz; tanto pelos prejuízos que ela acarreta, e
sua parte negativa. A bebida alcoólica já trouxe
transtornos para nós, é uma coisa que temos que
estar atentos”. Como solução pra resolver isso,
diz: “E, nada melhor agente falar com os mais velhos, e receber
seus conselhos e ensinamentos, para dirimir os problemas, devido
sua sabedoria”. Aproveitando de estarmos próximo do novo
instituto recente criado, o Instituto Nhandereko Mbya Guarani;
que surge para trabalhar a ‘temática indígena e
cultura guarani,’ e ressalta: “Com esse Instituto, pretendo trabalhar
a cultura guarani, a memória dos nossos ancestrais mais
velhos”, adiantou.
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Com
relação a discussão e propostas que estão
sendo discutidos na solenidade de inauguração da
Casa de Reza e os desafios para o futuro falou: “E hoje, com a
Comissão Yvyrupa, os parceiros como o CEDIND, em articulação
nas aldeias; pretendemos lutar por conquistas, e vejo isso como
momento importante; Para nós, com a criação
do CEDIND, nosso Conselho Estadual dos Direitos Indígenas
do Estado do Rio de Janeiro, vejo também como grande momento,
pois, podemos nos articular para melhor reivindicarmos os nossos
direitos com Juruá”; O branco. Com relação
aos nossos mais velhos, diz; “São nossa fonte de sabedoria;
Pois, quando eles morrem, vão para a moradia sagrada, e
levam todo os seus conhecimentos. E nós aprendendo com
eles, levamos na fala, no gesto, no olhar, essa sabedoria”. Continuando
sobre a Cerimônia Nhemongaraí; & Comissão
Guarani Yvyrupa; Dá importância do evento para conscientização
dos jovens guaranis: “Esse encontro é pra isso, melhorar
a nossa qualidade de vida. A música guarani, nos faz refletir,
pois falamos do sagrado, da busca pelo lugar sagrado. E esse encontro
Yvyrupa, permiti-nos repensar nossas vidas, nossa caminhada; O
parto sagrado na aldeia; a nossa pintura; o nosso cocar e a nossa
maneira de ser; É uma forma de nos estruturar. É
preciso um trabalho de valorização aos indígenas,
porque Juruá já estigmatizou os povos indígenas,
dizendo que não tem mais índio, que foram assimilados
o que não é verdade. A justificativa é que
tem smartfone e carro Hilux”. Sergio Ricardo Verde Potiguara,
aparteou dizendo: “A retorica é sempre a mesma: Eles não
são mais daqui, não são indígenas.
Quando no Brasil, tudo é território indígena,
todos somos indígenas; Nós não estamos aqui?”,
questionou. Darcy Tupã: “Você ver que as pessoas
se enganam quando falam do nosso povo. Fizeram uma pesquisa de
solo aqui perto e acharam cerâmica guarani a mais de três
mil anos. Esse registro é uma prova, de que não
precisamos dizer pra nós, que já estávamos
aqui antes dos portugueses”. Seu zé Puri, emendou: “Aqui
já era terra que os índios ocupavam, muito antes
da chegada dos portugueses”. Com alusão a costa brasileira
de muitos rios e oceanos, descreveu Puri: “Quando teve o diluvio,
ele não foi no mundo inteiro não”, indagou? “Eu
entendo que o diluviou não aconteceu em toda parte do mundo,
mais sim em uma metade do mundo”, criticou. “Aqui em 1500 os portugueses
quando desceram mar abaixo, percorrendo o caminho do diluvio.
Eles perceberam que uma parte da terra estava seca, que nem tudo
estava destruído. Ai ao adentrar nosso território,
encontraram uma arvore chamada pau-brasil; entraram pela mata,
pintaram como fotografia e levaram de volta para Portugal para
mostrar seus superiores e depois voltaram. Eu acho bonito o que
acontece neste momento aqui, porquê está cheio de
mato. Se você passa o trator o que acontece? Acaba a aldeia.
Os guaranis, são um povo que nasce dentro do mato, valoriza
o mato, por que vive dali. Eu, nasci dentro do mato plantando
mandioca, milho, abobora, quiabo, outros. Naquela época,
nos alimentávamos do que a gente plantava. E mesmo sem
termos dinheiro, agente plantava, tínhamos as coisas, pois
agente trabalhava pra nós. Eu acredito que Deus, nos deu
uma vida muito boa”. Com relação ao ser humano,
ao homem urbano, assevera: “Tem uns trinta por cento da população
que destroem, prejudicam a natureza. Essas pessoas eu não
apoio”, reclamou
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Sergio
Ricardo Verde: “Estamos indo para o terceiro ano de pandemia global,
com muita morte, além da devastação da natureza.
E os povos guaranis nos mostram com a sua juventude, a defesa
da Natureza”. Wendel: “A natureza está ai para nos ensinar.
O sistema florestal, o que temos de evoluído hoje na academia,
no estudo da agroecologia, é saber indígena, e temos
que mostrar isso pra os jovens”, completou. Darcy Tupâ:
“Os jovens do asfalto tem celular, smartfone e está sempre
reclamando, sempre infeliz. E eles nos perguntam da felicidade
de nossos jovens andarem descalços, brincando na areia,
felizes”, adiantou. Seu Zé Puií: Minha neta anda
descalça feliz”. Sergio Ricardo, em alusão ao Resort
Maraey, quer dizer: Terra Sem Males, Em referência ao mito
de criação, de uma terra onde não haveria
fome, lugar bom pra se viver, questionou: “Os espanhóis
estão usando um nome ancestral guarani, se apropriando
de um nome e desvirtuando sua finalidade, para destruírem
a APA de Maricá. Isso é um absurdo”, completou.
Com a palavra Darcy Tupã acrescenta: “A Terra Sem Males,
para os guaranis. É a terra onde os guaranis podem fazer
o seu Tekohá; seu convívio comunitário a
sua maneira com sua família; praticar sua reza; pesca,
e que nos transmite a paz. Estar feliz com a natureza, é
estar em uma ‘Terra Sem Males’. Na terra os guaranis podem ficar
um ano, dois anos, trinta anos caminhando, retornando, dando tempo
para aquele Tekohá se recuperar, se fortalecer e depois
retornar. Assim os guaranis viviam na beira da praia, buscando
a melhor forma de viver. Eu estava fora do Rio, no Paraná
a trabalho, onde me formei em História em dois mil e cinco.
Até que minha mãe me chamou, dizendo que encontrou
uma terra, aqui em Camboinhas, que ela sonhou; Em seus sonhos,
a terra que ela avistou, era ‘A terra Sem Males’, salientou. Sergio
Ricardo Verde: “Os guaranis em Camboinhas estavam fazendo o caminho
de Volta”? Completou. Darcy Tupã: “Camboninhas tem uma
montanha de cemitério indígena, e guarani. Os indígenas
daqui do Rio, quando adentraram o território tiveram contatos
com os Goitacazes, e tem muita morte, ousadas de indígenas
aqui. É corpos em cima de corpos. Na criação
do povo guarani, usaram algodão e madeira, para formar
o povo guarani. A ponta do arco e flecha quando envergado, mostra
toda a sua força”. Zé Purí: “O algodão,
o café tem uma explicação? Elas foram escolhida
para enfeitar a bandeira do Brasil, com um galho de café
e umas estrelinhas”. Darcy Tupã: “Na aldeia Tekohá
Guarita no Rio Grande do Sul, meu pai veio de lá, de Tenente
Portela. Eu vim no colo de meu pai. Eu não me lembro como
era a aldeia lá”; E completou: Onde ele viveu eu ainda
não fui? Mas ainda vou documentar a trajetória do
meu pai”, imendou. Sergio Ricardo Verde: “Seu pai fundou várias
aldeias, não? Seu pai era o Pedro de Oliveira”? Darcy Tupã,
contando a trajetória do seu pai ainda adolescente contou:
“Meu pai quando adolescente foi amolar uma Lima e quebrou. O meu
avô correu em direção dele para bater. E meu
pai saiu correndo e se escondeu. Ele meu avô era muito brabo.
Quando a noite ele foi dormir, o pai ameaçou colocar agua
quente na sua mãe, por ter defendido, e ele e fugiu. Depois
disso, ele fugiu de casa e nunca voltou, nunca mais teve contato
com sua família. Dessa saída, ele chegou na aldeia
Tekohá Guarita, e conheceu minha mãe com na época
com dezesseis anos. Meu pai tinha quatorze anos, e resolveram
viver juntos. Na ocasião da união entre os dois,
chamaram os caciques, que fez o teste, pra ver se podia casar
e ai tudo começou. Casados eles migrara para Tekohá
Toldo, Santa Catarina, depois Topava, aldeia Bugiu. Depois foi
para aldeia Jacutinga. Depois ele retorna para Santa Catarina.
Meu pai foi um ser de luz, os índios Xokleng e Kaingang
do Rio Grande do Sul, gostavam muito deles. Depois meu pai veio
para o Rio, conquistar a Aldeia Araponga, que na época
estava com o cacique Alcebias. Com a conquista do território,
ele chamou o cacique Augustinho para tomar conta da Aldeia Araponga.
Depois a convite do Miguel Benites, (Karai Tataxi) foi para Paraty
Mirim, para lutar pela Demarcação. Em seguida para
a Aldeia Camboinhas, a pedido de minha mãe.
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No
presente, pretendo com o Instituto Nhandereko, contar a história
do meu pai; dos lugares onde meu pai passou; gravar os depoimentos
e contar. Guardar esse material como uma patrimônio de preservação
da cultura guarani. Eu não quero lembrar só o tumulo
do meu pai. Eu quero que ele seja visitado como uma personalidade
importante”. Zé Purí: “A Escola hoje da Aldeia Guarani
Para Poty Nhe Ë Já”, foi ele que ajudou a construir”.
Sergio Ricardo Verde: “Fazer um Livro para guardar a memória.
Como diz Juruá: O Branco só gosta de tudo escrito
na cascara da arvore; E nem percebe que a arvore sofre com os
cortes e desmatamento. O livro também pode ser digital.
Taí, um lado bom da tecnologia, poder disponibilizar as
fotos, depoimentos; o Brasil precisa conhecer isso”, concluiu.
Darcy Tupã: Minha mãe Lídia Nunes, de noventa
e três anos é pajé, curandeira, uma pessoa
sabia. A união deles por Nhanderu Ete, deu ao meu pai essa
força. Embora eles se separaram de carne, o espirito não
se separa. Eles viveram junto até a morte de meu pai, só
assim se separaram. A minha mãe continua aqui, é
uma pessoa forte. Eu quero que as conquistas aqui em Mata Verde
Bonita, seja realizados com a presença dela, com a nossa
Demarcação”. Relembrando: “Quando eu fui tirar os
bambus do mato para a construção do Instituto Nhandereko.
O meu pai ficou muito feliz com a construção. Para
comemorar. Ele me chamou eu e meus irmão; ofereceu-nos
um vinho que ele tinha ganhado no Natal a dois anos, para nós
comemorarmos. E ele fez questão em uma sexta feira ao meio
dia, que estivéssemos todos os filhos presentes. E nessa
sexta para o sábado, as três horas da manhã,
ele foi embora, partiu. Na verdade, ele fez um ritual tudo muito
sagrado. Com relação ao meu pai e minha mãe...
um completou e compartilhou com o outro; Juntou a sabedoria do
meu pai, com a sabedoria da minha mãe. Um foi o equilíbrio
do outro na caminhada. Meus pais tiveram dez filhos, cinco homens
e cinco mulheres. Todos nasceram de parto feito pelo meu pai dentro
do Mato. Eu lembro que eu pegava e tomava conta dos meus irmãos
menores. Depois, vinte minutos depois, ele trazia a criança
chorando, viva. Eu, ficava ali de tocai preocupado. Mas vejo que
se trata de sabedoria, de saberes, ensinamentos ancestrais”, conclui.
Em seguida a prosa terminou com os seus olhos lacrimejados de
emoção. Sergio Ricardo Verde me perguntou. “E ai
Reinaldo: Vamos escrever essa estória para as novas gerações”?
Balanceia a cabeça em concordância depois da certificação
de todos.
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Analise
Conclusiva
A
Tekoa, Aldeia Mata Verde Bonita, nas palavras da pajé Lidia
Nunes, é a Nova Terra Sem Males. Segundo estudos antropológicos
de Pablo Antunha Barbosa e Tonico Benites, 2009:
“É Aldeia da Bela Floresta Verde” devido ao mato existente
no “Morro do Mololó” e de que todos gostaram muito. Segundo
Lídia, as coisas vão ficar muito melhor agora, pois,
todos poderão ter sua casa e sua roça. Dizem que
ao caminhar pela área, mesmo se ainda não conheceram
tudo, encontraram muitos remédios, plantas, frutas e que
seguramente encontrarão mais coisas. Comentaram também
que o lugar é bom porque tem muitas árvores e porque
avistaram os rastros de alguns bichos. Sobre a mata existente
no Morro do Mololó, dizem que só vão “usar
mesmo para material. Não falta lenha no local. Tem muita
lenha e não precisará cortar árvores”
O
Local hoje, segundo a Cacique Jurema, tem consenso de todo grupo
Mbya, conforme abaixo assinado entregue as autoridades:
“Alguns fatores importantes influenciaram a decisão de
cada, e levando em consideração a área, terra
boa para o plantio, a escola, a nossa casa de reza, a oca de artesanato,
as moradias que todos tem, e os que não tem, está
em processo final, decidirem ficar no local. E mais importante
que foi levado em conta na hora da decisão é que
temos o nosso cemitério, que além de ser muito sagrado;
Sair das terras atuais significaria remover nossos entes queridos
do seu descanso e reviver toda a dor da perda novamente. Então
com base em tudo que dissemos nesses dez anos, de nossas vidas,
onde tivemos perdas e nascimentos, permanecemos aqui”.
Para
Darcy Tupã, estamos tratando de Cemitério indígena
cuja a presença guarani consta a mais de três mil
anos. E que o convite para permanência ali foi feito pelo
Ex prefeito de Maricá, Quaqua, e que a Ex Secretaria de
Direitos Humanos Zaidam, inclusive solicitou estudos a FUNAI,
para a materialização da Aldeia Tekoa Ka'Aguy Ovy
Porã. Passados dez anos no local, entre idas e vindas com
a administração municipal, falta o Documento comprobatório
e definitivo da Titularidade da Terra. Neste sentido, com a Criação
da Comissão Yvyrupa, e definições propostas
pela comuna guarani Mbya, foram apontados diversas soluções,
a começar: 1- Titulação da Terra Onde Encontrasse
Aldeia Mata Verde Bonita; 2 -Regularidade da Agua, pois agua recebida
em carro pipa, é pouca para todas as famílias; 3-
Construção de Escola descente e Contratação
de professores para o ensino guarani e português; 4-Saneamento
básico na aldeia, pois o que existe são foças;
5- Mudas para os plantios de sementes de frutas; 6 - Criação
de um Aquífero para peixes; 7- Reflorestamento; 8- Contratação
de Médicos e Enfermeiros para o posto de Saúde Comunitário;
9 -Segurança ao Entorno da Aldeia; 10-Proteção
da APA, Restinga de Maricá; 11- Mudança da Aldeia
Céu Azul, para fazenda com infraestrutura adequada; 12
- Ecoturismo em visitas guiadas para venda do artesanato;13- Coleta
de plantas medicinais da APA, para preservação e
utilidade; 14 - Cogestão de vendas futuras de produção
local de alimentos, com apoio do poder público; 15-Judicialização
de Demandas da Comunidade junto ao poder judiciário;16-
área de lazer para as atividades esportivas; 17- Parceria
público privada para melhorias viárias do local.
Segundo Darcy Tupã, as coisas melhoraram muito nesses dez
anos, mas ainda falta muita coisa. Em particular disse Tupã:
“Gostaria de cumprir o desejo de meu pai, que ao sair ao encontro
de Nhanderu, pediu para que plantássemos bananeiras e outras
frutas para a autossuficiência da aldeia em momentos de
crise” sublinhou:” Esse é o meu sonho”, completou. Os guaranis
sabem que viver na terra é um desafio diário, pois,
doenças, mortes, violências e destruição,
é uma constante. Daí a importância de estar
com o coração aberto a Nhanderu Etê; Ouvir
os Xeromõy, os mais velhos, pois deles herdamos a educação
que é passado de pai pra filho, neto, bisneto, tataraneto,
em cadeia para as novas e futuras gerações.
REINALDO
DE JESUS CUNHA – Reinaldo Potiguara - [email protected]
Mestrando Antropologia Social –UFRJ/ Museu Nacional
Referências
Bibliográficas
ATA
– Maricá – Mata Verde Bonita
http://www.aula.org.br/Editorias2022/ATA-PAPEL.pdf
Clastres
, HéLèna – Terra Sem Males – O profetismo tupi-guarani
Editora Brasiliense, tradução; Renato Janine Ribeiro,
1978
Cerimônia do Nhemongaraí & Comissão Guarani
Yvyrupa - 1ª Part/Ago/22
https://www.youtube.com/watch?v=A24ecHFI3qA&t=68s
Cerimônia do Nhemongaraí & Comissão Guarani
Yvyrupa – Ago/22 - 2ª Parte
https://www.youtube.com/watch?v=RVQmZSQNDUc&t=1895s
Comissão
pró-índio de São Paulo; Guarani Mbya e Tupi
AS TROCAS E FLUXOS POPULACIONAIS: O MOVIMENTO GUARANI
https://cpisp.org.br/indios-em-sao-paulo/povos-indigenas/guarani-e-tupi/#:~:text=O%20povo%20ind%C3%ADgena%20Guarani%20est%C3%A1,seja%20de%20225%20mil%20pesso
Encontro
das Ancestralidades Guarani, Puri e Potiguara na Aldeia Tekoa
Ka'Aguy Ovy Porã; https://www.youtube.com/watch?v=GWWVlReRNEA&t=2468s
MARICÁ/maraká/
‘A terra está de Volta’
https://www.aula.org.br/Editorias2022/Tekora-Jevy-A-Terra-esta-de-volta.pdf
Relatório Antropológico de Eleição
Terra Indígena Localizada no Município de Maricá
- Pablo Antunha Barbosa e Tonico Benites - Antropólogos
– 2009
http://www.aula.org.br/Editorias2022/Relatorio-Antropologo.pdf
Senso
IBGE 2010
https://www.ibge.gov.br/indigenas/indigena_censo2010.pdf
TCC-
NHEMONGARAI: RITUAIS DE BATISMO MBYA GUARANI - Karaí Nhe'ery
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/204661/TCC%20-%20Darci%20da%20Silva%20Karai%20Nhe%27ery.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Terra
Sem Males - Darcy Tupã - Agosto/2022
https://www.youtube.com/watch?v=H7NzvhdL0oY&t=1353s
Terra
Guarani do Sul e no Sudeste – Comissão
Pró-Índio de São Paulo Carolina K. I. Bellinger;
Daniela Carolina Perutti; Lúcia M. M. de Andrade 2009.
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